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Capítulo 37: XXXVII

Página 503
parece então erguer-se lúcida como nunca e contemplar compadecida os maus instintos, as prevenções arreigadas, os falsos preconceitos que no trato comum da vida em tão viciosas direcções nos solicitam. Enquanto o mundo dorme, dormem com ele no nosso coração as paixões que o mundo alimenta.

Naquele momento D. Luís não era o mesmo homem moral que conhecemos. Luzia-lhe a verdade resplandecente à sua imaginação fascinada.

No meio da corrente dos seus pensamentos distraiu-o um quase imperceptível respirar que ouviu a seu lado. Voltou-se.

Era Berta que, cedendo às fadigas de tão continuadas vigílias, adormecera junto do leito do doente.

D. Luís ficou a contemplá-la assim.

A luz do velador dava-lhe no rosto, em que se desenhava a mais doce expressão de serenidade de espírito. Pendia-lhe a cabeça sobre as travesseiras do leito e uma madeixa de cabelo, soltando-se-lhe, viera afagar-lhe a fronte, abrindo caminho por entre os dedos que a sustinham.

D. Luís ergueu-se a pouco e pouco no leito para melhor observar aquela figura angélica de mulher, adormecida ao seu lado.

Traduziam as feições do velho o êxtase em que o arrebatara aquela contemplação. Parecia-lhe uma visão sobrenatural. Com movimentos cautelosos para não a acordar, encostou os braços às almofadas da cama e, apoiando a cabeça entre as mãos, assim permaneceu imóvel, abstracto, com os olhos fitos em Berta e o espírito subindo às regiões mais limpas dos espessos nevoeiros do mundo.

Era um expressivo grupo o daquela rapariga adormecida e o daquele velho pálido, descarnado, meio erguido no leito, contemplando-a em um quase rapto de adoração. Àquela hora, no meio daquele silêncio, alumiada por aquela luz, a cena era misteriosamente solene e imponente.

Horas talvez durou aquela contemplação silenciosa.

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 503

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515