Não estava no ânimo de Tomé resistir mais tempo.
Correu para o leito, ajoelhou ao lado do doente e, pegando-lhe na mão, exclamou, cortada a voz pelos soluços:
- Sr. D. Luís, V. Ex.ª venceu. Digam o que quiserem. O meu orgulho não dá para mais. Berta, sê feliz...
O pranto não o deixou concluir, a frase perdeu-a soluçando sobre as mãos do fidalgo.
Não faltaram lágrimas e sorrisos aos que presenciavam a cena.
Passada esta explosão de sentimento, Jorge, tomando a mão de Berta, disse para Tomé:
- Aceito a felicidade que me oferece, Tomé, e prometo ser digno da esposa que me confia. Mas à minha própria felicidade sou obrigado a impor condições, para que no futuro nenhuma nuvem a perturbe. A nossa casa não está ainda, como sabe, livre dos encargos que por tanto tempo pesaram sobre ela. As dificuldades principiam a aplanar-se e a administração entrou no verdadeiro caminho. E ao seu auxílio e conselho devo principalmente este resultado. O meu orgulho, porém, visto que todos aqui atendem a orgulhos, o meu orgulho exige que eu só por mim realize esta obra que empreendi, que à força do meu trabalho satisfaça os compromissos contraídos. Quando receber Berta, quero recebê-la em minha casa, e que se não diga que foi ela quem me abriu as portas fechadas pela miséria. Por isso esperarei até então para realizar a minha felicidade.
- Muito bem, Jorge! - exclamou o fidalgo, fulgurando-lhe o olhar de alegria.
- É justo - concordou Tomé. - Compreendo esse desejo da sua parte, e nada tenho a dizer contra.
- Mais ainda - prosseguiu Jorge -, posso aceitar a esposa que me oferece, e orgulhar-me dela e da aliança com a sua família, que é honrada e generosa, mas uma coisa há que não posso aceitar sem humilhação. É a parte que pertencer a Berta da herança paterna.