Assim aconteceu desta vez, pois, voltando-se para Jorge, disse-lhe com uma impetuosidade juvenil:
- Dizes bem, Jorge. O nosso dever manda-nos acabar com esta vida de ócio e de inutilidade. É assim. É preciso que sejamos homens. Temos uma missão a cumprir, generosa e nobre. Trabalhemos. O trabalho traz consigo a recompensa e os gozos. Decerto deve sentir-se orgulhosa e satisfeita a alma que trabalha, porque vê que cumpre um dever. O que se nos afigura fadiga é prazer. Pois não te parece que um escritor, por exemplo, deve ser feliz nas horas de composição? E que o artista curvado sobre os instrumentos do seu ofício, e o lavrador vergado no campo, nem sequer sentem o suor que lhes corre da fronte? Tens razão, trabalhemos, a poesia visitar-nos-á nas nossas horas de labor, e não nos deixará sentir saudades dos perdidos ócios de fidalgo.
Jorge escutava o irmão com um sorriso triste e inocentemente malicioso, e comentava com um movimento de cabeça uma e outras destas estrofes em honra do trabalho. Quando Maurício concluiu, ele ponderou-lhe com a sua habitual serenidade:
- Valha-te Deus, Maurício, que estás tu aí a dizer? Não sonhes nem adoptes uma resolução séria, como a de que falo, sob o domínio dessas ilusões. Vê as coisas como elas são. O trabalho é nobre por certo, mas a poesia dele nem sempre a percebe quem muito de perto lhe conhece as fadigas. Não vás seduzido para a carreira do trabalho, porque cedo te desanimaria um cruel desengano.