Luís com os filhos tirara toda a importância à revelação. D. Luís apenas franziu o sobrolho à parte mais demagógica das doutrinas do filho, mas esse mesmo sinal de desgosto foi passageiro, e quando o procurador acabou a sua estirada conferência, em vez da indignação e do espanto com que esperava vê-la acolhida, apenas escutou estas simples palavras, pronunciadas com a maior fleuma:
- E então que pensa disso, frei Januário?
Lá de si para si o padre replicou à pergunta com a sua expressão favorita de desapontamento - Lérias! - mas em voz alta não foi expressivo, e respondeu em frase mais parlamentar:
- O que penso? Que hei-de eu pensar? E V. Ex.ª o que pensa? Eu por mim penso que anda aqui febre liberal; o veneno já está no sangue. Tão certo! Aquilo dá logo sinal de si. Em eles principiando a cantar-me ladainhas a S. Trabalho, eu digo logo com os meus botões: «Pois sim, sim, estás arranjadinho». O Sr. D. Jorge conversou por aí com algum mação. Quem sabe? Alguns desses engenheiros que estão na estalagem do Manco. Isto de engenheiros é gente que se não confessa; ou então são coisas do hortelão, que eu não seja quem sou se ainda não há-de dar que falar nesta casa; mas o certo é que lhe meteram na cabeça essas caraminholas e, se V. Ex.ª não olha por isso, eu lhe protesto que dão com o rapaz em mação, o que é uma pena, porque é um bom rapazinho. Mas quando eles me vêm com a nobreza do trabalho aos contos, torço-lhe logo o nariz.
- Parece-me que desta vez são sem fundamento os seus receios, frei Januário. Afinal, pondo de parte alguma expressão menos sensata, e que o verdor dos anos desculpa, as ideias do rapaz são razoáveis.
- Razoáveis?
- Porque não? Que quer ele? Ocupar em alguma coisa o tempo, que perde na ociosidade.