Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 74 / 519

Está cansado da vida de rapaz. É natural e é louvável. E em que quer ele empregá-lo? No que amanhã será constrangido a fazer, com pior resultado; no que eu devera ter feito na idade dele; em trabalhar, em gerir os bens da sua casa. Mais vale então que principie já, frei Januário, sob a guia dos seus conselhos, do que tarde, às cegas e sem uma pessoa de confiança a encaminhá-lo.

- Pois é verdade, mas…

- Ele falou-me nisso há pouco.

- Ah! pois sempre fez o que disse?!

- Fez, sim e fez bem. Achei que o rapaz tinha pensado maduramente no caso e dei-lhe a permissão que ele pediu. Era até o que eu tinha para dizer-lhe.

- Então, visto isso, de hoje em diante?…

- De hoje em diante, Jorge se entenderá consigo. O frei Januário precisa de descansar também.

- Eu ainda não estou cansado - resmungou o padre.

- Espero que dará ao meu filho todos os esclarecimentos de que ele precise e todos os conselhos da sua muita experiência.

- Não seja essa a dúvida, mas, na verdade…

O relógio do corredor, batendo nove horas, cortou inesperadamente a frase ao egresso.

Pelos modos a ceia ia tardando.

- Com licença - disse ele, levantando-se -, eu vou ver como correm as coisas na cozinha.

Mas nos corredores murmurava consigo, em tom aforismático:

- Não tem que ver. Filho mação, pai idiota… casa perdida.

Como frei Januário suspeitasse que ia encontrar o cozinheiro menos atento no desempenho dos seus gravíssimos deveres, dirigiu-se, pé ante pé, à cozinha, a fim de surpreendê-lo em flagrante.

Ao avizinhar-se, deu-lhe maior rebate às suspeitas um acalorado travar de vozes que de lá vinha.

Espreitou. A criadagem estava em congresso; orava o hortelão, o inimigo irreconciliável do padre; escutavam-no os outros, boquiabertos,





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