Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 23: XXIII Pág. 330 / 519

Estavam mal acabadas estas palavras e D. Luís achava-se já em frente do filho, fitando-o em silêncio e com um olhar de severa e expressa interrogação.

Maurício recuou, como se aquela aparição o ferisse em pleno peito. Os do Cruzeiro envolveram-se a mais e mais nas sombras dos corredores.

Seguiram-se alguns momentos de silêncio; D. Luís foi o primeiro a interrompê-lo.

- Aqui estou pronto para responder ao interrogatório de meu filho e desses senhores que se escondem... por modéstia na sombra do corredor. Interroguem.

- Meu pai... - balbuciou Maurício, baixando os olhos.

- Então deu nisso a bravata da atrevida provocação que me fez aparecer? E os senhores não serão mais ousados? Muito bem; se é a consciência que os abaixa ao lugar de réus, eu tomo o meu lugar de juiz. Que significa toda esta cena de orgia? Que infâmia, que vileza os fez subir estas escadas e empurrar aquela porta? Julguei perceber que se tratava de insultar uma senhora. Boa diversão para fidalgos!

E, voltando-se para Maurício, prosseguiu:

- Dantes, aqueles que traziam o nome de que usas baixavam cortesmente os olhos diante das damas e erguiam-nos para cruzar a vista de homem, quem quer que ele fosse, que procurasse a sua. Tu hoje desonras esse nome, fazendo o contrário. És insultante e provocador com a fraqueza, e baixas a vista ignobilmente sob o peso da tua covardia. Envergonho-me de te ter por filho.

- Senhor!

- Basta. Não quero aumentar a minha vergonha, devassando o íntimo das tuas intenções, vindo aqui em companhia de teus camaradas das devassas orgias. Berta, bem vê. Quando, movida por um sentimento generoso, subiu os degraus destas escadas no intento de se entreter com a alma de Beatriz, que melhor do que ninguém conheceu, confiava de mais na boa-fé dos outros, julgando-a pela sua.





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