Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 343 / 519

Gabriela, saltando agilmente sobre o selim, auxiliando-se da mão de Maurício; e enquanto ajeitava as dobras do vestido, preparava as rédeas e acabava de apertar as luvas, prosseguiu:

- Pois nesse caso vais ver o que são primores na arte. Ao que parece vens também?

- Se me permite? - disse Maurício, parando junto do cavalo, que ia já a montar.

- Com uma condição.

- Qual é?

- Quando eu te disser que nos separemos, hás-de condescender.

- Obedecerei, embora me custe.

- É indispensável. Tenho hoje uns projectos, que não posso realizar senão sozinha.

- Acompanhá-la-ei até onde me permitir.

- Está dito. A cavalo!

E, instigando de súbito a égua, partiu a galope, fazendo sinal a Maurício para que a seguisse.

Apesar de toda a diligência deste em montar, e da desfilada em que lançou o cavalo, não lhe foi fácil atingi-la. Sendo enfim alcançada, a baronesa afrouxou a rapidez da égua, e os dois cavalgaram a passo, um ao lado do outro.

A violência do exercício avivara o carmim nas faces da baronesa e dera-lhe ao olhar uma animação maior do que a que lhe era habitual.

O sorriso que lhe entreabria os lábios, e o arfar do seio, agitado pelo ímpeto da carreira, realçavam os dotes naturais daquele tipo feminino, no qual, se já se desvanecera o frescor da primeira juventude, sobreviviam ainda os traços permanentes de uma beleza correcta.

Maurício não se fartava de a admirar aquela manhã. Fora para ele uma imprevista revelação. Dir-se-ia que até ali uma nuvem lhe ocultara as perfeições da prima, e que, de repente, essa nuvem se rasgava para o surpreender.

O prestígio da elegância, da moda, dos distintos hábitos sociais, do espírito cultivado na frequência da mais selecta sociedade, estavam actuando no coração de Maurício, predisposto como o de poucos para aquele influxo.





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