Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 4: IV Pág. 52 / 519

de propriedade, ao criarem-se-lhe recursos para ele tirar do seu trabalho e da sua inteligência dez vezes mais do que dantes podia obter, quando na época em que tudo isto se realiza, uma casa como a nossa, em vez de prosperar como tantas, vê apressada a sua decadência, é porque tem em si um velho e incurável cancro a roê-la. E é esse cancro que eu quero conhecer, para extirpá-lo, se ainda for possível.

- Eu estou pasmado! Pelo que ouço, acha o menino que todas essas fornadas de leis que esta gente tem feito são muito boas e que a sua casa devia ser muito bem servida com elas?

- Essas leis de que se queixa são racionais; uma casa racionalmente administrada não pode pois perder com elas.

- Sim, senhor! Visto isso, o menino, que, depois da morte dos manos, ficou sendo o filho mais velho da família, gostou talvez muito de ver acabar com os morgados? Sim, como as leis modernas são tão boas, havia de gostar - argumentou o procurador, com ares de finura, como de quem apanhava em falso o seu adversário.

Jorge respondeu serenamente:

- E porque não? A abolição dos morgados acho eu que foi um grande acto de justiça e de moralidade; além de ser uma medida de longo alcance político.

- Ai... ai... ai... O que mais terei de ouvir! O menino está perdido!... Pois já me aplaude a maldita lei que há-de dar cabo das famílias mais ilustres do reino... Ai, como ele está!...

- Deixe-se disso. A abolição dos vínculos só trouxe morte às casas que deviam morrer. O que ela fez foi proclamar a necessidade do trabalho, indistintamente, para quem quiser prosperar. O esplendor das famílias deve ficar somente aos cuidados dos membros delas e não da lei. Quando esses não tenham brio nem dignidade para o sustentar, justo é que ele se apague, e que o nome dos antepassados não continue a ser desonrado pelos vícios e ociosidade dos descendentes.





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