Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 9: IX Pág. 111 / 519

do que Maurício desconfiaria que na veemência com que Jorge fulminava a incúria aristocrática havia muito de fictício, como se procurasse desviar a atenção do verdadeiro motivo do seu estado nervoso.

- Não estou disposto a discutir a legitimidade das pretensões aristocráticas. Deixemos isso. Dizias tu que fugisse de me apaixonar por Berta. Reconheço a prudência do conselho. Porque é certo que há naquela rapariga um não sei quê tão superior ao que por aí vejo que, se eu não tivesse de deixar dentro em pouco tempo estes sítios, para… arranjar um modo de vida… não juro que pudesse ser indiferente àqueles encantos. Demais, há entre nós recordações de infância e quer parecer-me que ela ainda não as esqueceu.

Jorge, sem responder, continuava a passear no quarto.

- Mas aquela luz não me sai do pensamento - prosseguiu Maurício. - Que estará fazendo a pobre rapariga a estas horas da noite? Não te parece que está alguém à janela?

- Mal se pode divisar através das folhas desses castanheiros; mas julgo que sim.

- Pobre pequena! Ali, só, nesta aldeia. Está cismando em como poderão ter realidade as vagas aspirações do seu coração.

Jorge sorriu, e acrescentou com sarcasmo:

- Ou de que maneira há-de corresponder-se com algum Romeu colegial que deixou suspirando em Lisboa.

- Estás insuportável, Jorge.

- Uma experiência! - exclamou, passados alguns momentos de silêncio, Jorge, voltando à janela, onde permanecia ainda Maurício.

- Tu estás dando tratos à imaginação para adivinhares qual será o pensamento de Berta. Eu aventuro uma suposição. Assim como nós vimos aquela luz, ela vê esta e talvez a nossa sombra na janela. É natural que suponha que para ali dirigimos as vistas, e muito provável que adivinhe que falamos dela.





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