- Não é terror trágico, é desgosto. Eu bem sei que são usuais esses galanteios que dizes, essas falsas ostentações de amor, com as quais se profana e desprestigia tudo quanto há de mais santo e respeitável no coração do homem. Às vezes sucede, é verdade, que uma das partes interessadas, talvez por andar alheada dos negócios terrenos, como dizes, entra com alma nessas comédias sociais, e, quando a cena finda, muito a bel-prazer do outro actor e sob os aplausos dos espectadores que riem, essa alma sente-se ferida de um golpe mortal. As ilusões da mocidade, o suave perfume de um afecto virginal, as primícias de um amor casto, tudo se desvanece nestas profanações, e não sei que haja espírito tão leviano que ouse tentar a representação destas comédias ridículas e ao mesmo tempo perversas com uma pessoa a quem se devem afeições leais e respeitos.
- Mas...
- Em uma palavra, Berta é a filha de um homem honrado; Berta era a amiga e a companheira de Beatriz e muitas vezes se sentou connosco à mesa, a que presidia nossa mãe, que a abençoava quando nos abençoava a nós. Não te lembras disso?
- Lembro, e por isso mesmo a amo. Não te disse que havia entre nós recordações de infância?
- Amas! - exclamou Jorge, com uma impaciência a que era pouco sujeito. - Que amor! Um amor de que fazes confidentes os