Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 171 / 519

À porta encontraram-se com frei Januário, que voltava azafamado da cozinha, onde tinha ido dar ordens acomodadas à solenidade do caso e às impaciências e apetite do próprio estômago.

O padre limpava ainda os lábios ao lenço, para fazer desparecer os vestígios duma libação extra-oficial que de passagem fizera.

- Queira V. Ex.ª perdoar, Sr.ª baronesa, o aparecer-lhe ainda agora, mas as obrigações do meu cargo...

- Ó Sr. frei Januário, por quem é, lembre-se de que somos conhecidos antigos, e que até por vezes lhe dei motivos para me abjurar como jacobina. Tinha que ver se me preparava a honra de uma felicitação em forma. Onde está meu tio?

- O fidalgo não estava prevenido de que V. Ex.ª chegava tão cedo, e por isso ainda está recolhido no seu quarto, mas eu vou...

- Ai, não, não; por amor de Deus não o acorde!

- Não; ele está já a pé; mas enfim a fazer a barba e tal... sempre leva alguns minutos.

- Que se não apresse por minha causa. Eu iludirei a grande vontade que tenho de lhe beijar a mão conversando com o primo Jorge.

- Então, se V. Ex.ª me dá licença...

- Até logo, frei Januário.

E, quando ia já longe, acrescentou:

- Ó Sr. frei Januário, aquele grande dia que estava já para chegar na última vez que nos vimos, aquele dia de redenção, ao que parece não chegou ainda?

O ex-frade encolheu os ombros, e respondeu com ar de mistério:

- Ainda não é tarde, minha senhora. Pouco viverá quem o não vir.

Gabriela entrou rindo com Jorge para a sala.

- E Maurício - inquiriu ela - também já tem barba para fazer?

- Parece-me que saiu, ainda com estrelas, para uma batida de caça.

- Bom; esse, pelo que vejo, conserva puros os tradicionais hábitos de família.

Jorge sorriu.

- Tu é que degeneraste.





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