Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 17: XVII Pág. 219 / 519

Seria dobrar o desdouro. Cometida a fraqueza de sentar-se nos bancos das aulas ao lado dos filhos dos comerciantes e lavradores, devia-se ao menos seguir o exemplo do mano bacharel do Cruzeiro, o qual evitara a circunstância agravante de servir depois de alguma coisa.

Formava o grupo à parte frei Januário, em animado colóquio com os outros dois padres, também apensos a casas fidalgas, e igualmente fervorosos na defesa dos legítimos direitos da nobreza e abominadores dos pedreiros-livres.

Maurício, na companhia dos rapazes no terraço, entre os quais se achavam os dois primos do Cruzeiro, tomava parte nas suas diversões, mas sem perder certo ar de melancolia que lhe ficara das cenas da véspera.

Jorge atendia a todos, mas nele era ainda mais evidente do que em Maurício a preocupação de espírito.

Desde a véspera os dois irmãos não haviam trocado uma palavra. Gabriela notara-o, e desconfiava de que alguma coisa se tivesse passado entre eles.

Não deixava porém a baronesa de desempenhar pela sua parte, com superior ciência, o papel que lhe cumpria, como a pessoa em honra de quem tinha lugar a festa de família. Ia de grupo a grupo, tendo uma amabilidade certeira para cada indivíduo, e conseguindo desvanecer com as inebriantes inalações de lisonja a superciliosa desconfiança que os seus ares de corte da actualidade despertavam naqueles espíritos, escrupulosos respeitadores da corte velha.

Houve uma circunstância que excitou a curiosidade da baronesa. Notara ela que a maior parte dos rapazes com quem os manos do Cruzeiro haviam conversado e rido seguiam Jorge com olhares maliciosos, e que sempre que este lhes voltava costas, trocavam uns com os outros risos mal sufocados. Da roda dos rapazes comunicara-se o mesmo efeito à





Os capítulos deste livro