De repente estremeceu, parou e, comprimindo o peito como se fora ferido ali, murmurou:
- Ó Santo Deus!
- Que tem V. Ex.ª? - interrogou inquieto o padre, que reparara no gesto de D. Luís - Foi pontada?! Estes passeios violentos e fora de horas...
O fidalgo não respondeu, e continuou com os olhos fitos em não sei que ponto da quinta.
Frei Januário desviou para ali a vista, a fim de elucidar-se na explicação do mistério.
Chegava neste momento ao portão uma rapariga, singelamente vestida de branco, que correu ao encontro deles.
Era Berta.
- O meu padrinho! - exclamava ela dirigindo-se ao fidalgo. - O Sr. D. Luís! Até que enfim o vejo! Julguei que não chegava este dia!
E, pegando-lhe na mão, beijou-a com respeito e afecto.
E D. Luís não lha retirou, nem teve uma palavra que lhe dissesse. Continuava a olhá-la, como esquecido de tudo e profundamente perturbado.
O padre observava a cena boquiaberto.
- Há que tempos que o não via! - prosseguiu Berta com uma carinhosa volubilidade de criança.- Pois tinha saudades! Quantas vezes olhava para aquelas janelas, a ver se por acaso o descobria em alguma? Mas nunca, nunca! Que vontade que tinha em lá ir, mas... Disseram-me que o padrinho nunca saía e que vivia quase sempre só no seu quarto. Para que é que vive assim? Isso faz-lhe mal... Mas... que tem, Sr. D. Luís? Meu Deus... Está a chorar!
O padre deu um passo à frente, como duvidando do que ouvira.
D. Luís afastou-o com a mão.
- É verdade, - disse ele afinal, profundamente comovido. - É singular isto em mim! Mas que quer, Berta? Quando cheguei aqui e a vi...
- Não me trata já por tu? - interrompeu-o Berta, sorrindo tristemente.
O fidalgo, depois de uma curta hesitação, repetiu:
- Quando aqui cheguei e te vi, lembrei-me da minha pobre Beatriz.