Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 3: III Pág. 28 / 519

Eis a razão por que a presença de Jorge o surpreendeu; mas, sem dar sinais de estranheza, caminhou para ele com as mãos estendidas e o rosto aberto em risos da mais cordial hospitalidade.

- Entre, Sr. Jorge, entre. Isto por aqui está tudo uma desordem, mas enfim é casa de lavrador, e em Setembro não há maneira de a ter asseada. Ó Luísa, manda para aqui uma cadeira… ou deixa estar, é melhor entrar lá para dentro.

- Não, Tomé, eu prefiro ficar aqui. E não se incomode. Olhe, já estou sentado.

- Ora! Num carro! Isso é que não. Nada, não tem jeito. Luísa, manda então a cadeira, manda. Quer beber alguma coisa, Sr. Jorge?

- Agradecido, Tomé: não tenho sede. Apeteceu-me vir ver de perto esta lida que por aqui vai, e que estive observando, perto de uma hora, ali de cima: por isso, desci.

- Ora essa! Pois bem-vindo seja, que sempre me dá alegria ver aqueles meninos que conheci tão pequerruchos como estes.

E apontava para as crianças que, agarradas às pernas do pai, olhavam com grandes olhos para Jorge.

- São todos seus? - perguntou Jorge, afagando-as e sentando uma nos joelhos.

- E aquele que a mãe traz ao colo e a pequena que está na cidade.

- Ai, sim, a Berta. Deve estar uma senhora?

- Está crescidita, está. Mas vamos, tome alguma coisa. Olhe que o meu vinho é puro e não faz mal de qualidade alguma. Aquilo é sumo de uva e nada mais.

- Obrigado, obrigado; mas não bebo agora. Peço-lhe que continue com o seu trabalho, sem se importar comigo. Para isso é que vim.

- Ai, isto está a acabar. Vai no meio-dia - acrescentou, olhando para o Sol - , daqui a nada vai esta gente jantar e… Para onde levas tu esse carro, ó desalmado! Perdoe-me, Sr. Jorge, mas estes diabos… Eu atendo-o já.

E, sem poder conter-se, colocou-se ele próprio à frente dos bois, e encaminhou o carro na direcção conveniente.





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