Luís, descontente por ter de aceitar um favor do fazendeiro, porém sem coragem de recusá-lo - eu não quero privá-lo da companhia de Berta... Sei quanto se quer a uma filha e não posso aceitar o sacrifício.
- Ora adeus, fidalgo! Eu quero bem à rapariga, isso lá é verdade; mas não me faltam por casa filhos com que me entretenha. E depois isto de filhas, mais tarde ou mais cedo, é contar que batem as asas para fugirem do ninho. É bom costumarmo-nos a passar sem elas. Por isso, se V. Ex.ª não tem dúvida em aceitar a companhia da pequena... é fazer de conta que ela nada tem comigo...
D. Luís sentiu que ia ser vencido pela generosidade de Tomé. Resistir por mais tempo era revelar inutilmente repugnância em aceitar o benefício, e tornar evidente a sua fraqueza quando finalmente o aceitasse.
Cedeu pois a tempo, e enquanto o podia fazer, salvando a dignidade aristocrática, que sobretudo prezava.
- Dívidas dessa natureza não hesito em contraí-las, apesar de saber que as deixarei em aberto. Aceito, Tomé, aceito a companhia desta menina, que me falará de minha filha e ma recordará. Não é verdade, Berta?
- Decerto que havemos de falar muito de Beatriz.
- Muito bem - exclamou Tomé da Póvoa -, pois então aí lha deixo, fidalgo, e vou à minha vida.
Compreendeu D. Luís que não devia ficar inferior em generosidade ao seu antigo criado.
Assim que Tomé, fazendo-lhe uma cortesia, se dispunha a transpor a porta para sair, o fidalgo reteve-o estendendo-lhe a mão, e disse-lhe naquele tom solene que lhe era habitual:
- Tomé da Póvoa, não se retire sem que eu lhe aperte a mão. Bem vê que é a maneira que tenho de remir dívidas destas.
- Com todo o gosto, fidalgo.
E o honrado lavrador aproximou-se do leito e apertou nas suas