Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 8: VIII Pág. 98 / 519

Mas o Tomé ri-se! Seu pai ri-se, Berta!

- Rio-me da lamúria. Quem o ouvir há-de acreditar que ele parte deveras e que lhe custa imenso a partida.

- Então?

- A mim já me custa a crer que o Sr. Maurício nos deixe; mas, a isso suceder, não há-de ser a chorar que arranjará as malas.

- É injusto com o meu coração. É o que se segue.

- Não, senhor, não sou; mas sei o que é ter vinte anos, e sei o que é essa a cabeça. E agora o nosso caminho é por aqui. O Sr. Maurício, se quiser dar-nos o prazer da sua companhia, tem no fim desta rua uma casa para o receber, senão…

- Agradecido, Tomé. Outro dia será. Não quero perturbar com a minha presença as alegrias de família. Adeus, Berta; continuaremos a ser os amigos que éramos dantes, não é verdade?

- Porque não, Maurício… Sr. Maurício?

E Berta, com um sorriso de generosa confiança, estendeu a pequena e delicada mão à que Maurício lhe oferecia.

Este, com uma galantaria, que o século actual traz quase esquecida, levou-a cavalheirosamente aos lábios, movimento que aumentou as cores nas faces de Berta; depois, cortejando-a com perfeita elegância, partiu a galope.

Berta seguiu-o por muito tempo com os olhos e ficou pensativa depois que o perdeu de vista.

Tomé, que notara tudo isto, não deixou passar muito tempo que não admoestasse a filha.

- Olha cá, Berta, tem cautela com o teu coração, que não vá ele por aí deixar-se prender. Eu não sei como é costume viver-se hoje na cidade, mas aqui sei o que vai. Eu te digo, não ponhas muita confiança nestas amizades de Maurício. Não digo que ele seja mau rapaz, mas a cabeça é que é assim não sei como. E nisso mesmo é que está o perigo. Aqui há poucos rapazes que agradem mais do que ele; é bem-feito, vivo, esperto, generoso…Na tua idade, e com a educação que tens, não era para admirar que te agradasses de um rapaz assim.





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