Maurício, porém, achava-se pela primeira vez diante de uma mulher educada na alta escola desta especial esgrima. A arte era demasiadamente subtil para ele a descobrir. Todo o artifício estava em simular a mais completa ausência de afectação. Parecia tudo espontaneidade, irreflexão, imprudência até, e julgando conquistar um coração indefeso e sem arte, o novel combatente era vítima de um gladiador previdente, armado de viseira e couraça e jogando magistralmente com armas da melhor têmpera.
A baronesa estava a acabar de convencer-se de que a suposta paixão de Maurício por Berta não passava de uma ilusão ou de um capricho.
Mas não haveria em Berta algum sentimento menos efémero e que pudesse ameaçar-lhe o coração?
Era esse o problema que restava resolver. E para esse fim saíra a baronesa. A presença de Maurício impedia-a de proceder a essa investigação, por isso exigira dele a promessa de a deixar quando lho pedisse.
Cavalgaram por muito tempo juntos, antes que fosse reclamado o cumprimento dessa promessa. Maurício ia cada vez mais enlevado. Somente próximo da estrada, que conduzia à Herdade, foi que a baronesa lhe pediu para se separarem.
Maurício quis romper o contrato; Gabriela, porém, insistiu.
Ao despedirem-se, a baronesa disse para o primo, com uma inflexão de voz, que alvoroçou o coração do pobre rapaz:
- Agora provavelmente vais procurar ver a menina Berta?
Maurício respondeu expansivamente:
- Conceda-me que lhe beije a mão, prima, e correrei a encerrar-me em casa com as impressões desta memorável manhã.
Gabriela concedeu-lhe o pedido e recompensou-lhe com um sorriso o galanteio.
E Maurício foi efectivamente para os Bacelos, com o pensamento ocupado pela imagem da prima.
No meio dos seus enlevos pungia-o uma ideia.