— Não, Aquiles, não me obrigues a comer e a beber enquanto o meu filho jaz abandonado entre os navios. Entrega-mo depressa e aceita os magníficos presentes que te trouxe.
Franzindo as sobrancelhas, irritado, respondeu-lhe Aquiles:
— Não me fales mais nisso, ancião. Eu já pretendia entregar-te o teu filho, pois assim mo pediu minha mãe, por ordem de Júpiter. Mas não insistas, que eu seria capaz de me enfurecer novamente, lembrando-me do amigo que ele matou.
Ouvindo essas palavras, o velho calou-se, recuando a cólera do príncipe. Aquiles levantou-se e deu ordens para que as escravas fossem buscar o corpo de Heitor, o lavassem e o envolvessem numa preciosa túnica. E que, em seguida, o depositassem no carro de Próximo. Feito isso, voltou à barraca e, sentando-se junto do velho, disse-lhe:
— O teu filho repousa já no teu carro, para onde o fiz conduzir. Ao amanhecer, poderás levá-lo para Tróia e prestar-lhe as homenagens que quiseres. Mas agora tratemos da ceia.
Ditas essas palavras, Aquiles fez servir ao seu hóspede uma lauta refeição. Quando terminaram de comer e beber, puseram-se os dois a conversar e Príamo não se fartava de contemplar Aquiles, pois nunca imaginara que ele fosse assim tão belo e tão forte. Por sua vez, Aquiles admirava o velho Príamo pelo seu ar majestoso e distinto e escutava com atenção as suas palavras. Já era tarde quando o ancião lhe pediu:
— Agora, Aquiles, dá-me uma cama para dormir. Desde que o meu filho morreu, não mais os meus olhos se fecharam e sinto-me imensamente fatigado. Só hoje, sabendo que o meu filho me seria restituído, consegui comer e beber. Creio que esta noite poderei também dormir um pouco.