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Capítulo 9: IX

Página 104
Há fora um silêncio que amedronta, uma escura vastidão que apavora, silêncio que às vezes interrompe o rastejar furtivo de um réptil, o cair de uma folha e não sei que outros ruídos vagos; escuridão onde parece distinguir-se o movimento de umas formas estranhas e monstruosas.

Se vos demorais silenciosos nessa contemplação por algum tempo, já não a interrompereis por uma palavra, por um movimento, sem que essa interrupção vos sobressalte ou intimide quase. Estremecereis ao ouvir-vos no meio daquele silêncio. Instintivamente fala-se baixo. Parece que aquela paz, que aquela quietação, que aquela treva nos absorve, que nos domina, que nos atrai e que de alguma maneira nos faz parte integrante de si mesma.

Opera-se em nós uma quase magnetização. Adormece a sensibilidade que nos revela o mundo exterior; exalta-se o espírito; e o ruído que nos acorda deste sonho faz-nos estremecer. E o que se pensa calado nesses momentos, Santo Deus! Como a imaginação vagueia, como parece que daquelas confusas sombras que temos diante de nós nos surgem as memórias do passado e vêm, em silencioso voo, adejar sobre as nossas cabeças e estontear-nos com as suas rápidas e vertiginosas voltas!

O passado de Berta era uma singela história dos mais inocentes afectos. Não havia nela a intensa luz dos amores, apenas o débil clarão da aurora que os precede, essa misteriosa vibração de alma que sente nascer em si faculdades novas.

Eram pois imagens aprazíveis as que naquele momento lhe apareciam.

Entre elas a mais persistente era a da sua pobre amiga Beatriz, a delicada criança que parecia ter vivido somente para semear de saudades o coração de quantos a conheceram.

Reviviam para Berta naquela hora todas as cenas de infância passadas com ela; os jogos, os folgares e até as lágrimas choradas em comum.

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pág. 104 (Capítulo 9)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 104

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515