Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 9: IX Pág. 105 / 519

Que tempos!

E ao lado da meiga e pálida figura de Beatriz surgiam as das outras duas crianças seus irmãos. Via o rosto infantil de Jorge, no qual já então havia uns assomos da seriedade do seu carácter futuro; lembrava-se Berta das vezes em que ele tomava um ar grave para a admoestar ou repreender os seus mais turbulentos companheiros, e do respeito que todos lhe tinham, e do muito em que estimavam a sua opinião; e, a contrastar com esta serena imagem, esboçava-se a do inquieto, vivo e estouvado Maurício, criança pronta nos risos e no choro, violenta nas expansões, tão amorável como colérica, e em cujo coração infantil ferviam já nascentes as paixões do homem. Era esta talvez, de todas, a imagem que avultava mais distinta nas recordações de Berta. Que de episódios em que ela recebia a luz principal do quadro! Dos dois irmãos fora este o predilecto; o seu coração de criança abrira-se mais à franqueza de Maurício do que à seriedade de Jorge; havia no olhar deste uma expressão grave que a intimidava. Depois a diferença da idade concorria para aumentar esse efeito.

E Berta, pensando nisto tudo, erguia os olhos para o vulto da Casa Mourisca, onde se tinham passado aquelas alegres cenas.

Era escuro todo ele, e parecia ali posto como um destes monstros enormes que guardavam os jardins encantados.

De repente o monstro abriu um olho.

Apareceu uma luz em uma das torres do palácio.

Era a única que divisava em toda aquela escuridão.

Berta não pôde mais desviar os olhos dela.

De quando em quando, desaparecia momentaneamente a luz, como se alguém passeasse diante. Depois fixou-se, e somente mais de espaço a espaço se eclipsava, para surgir mais viva.

Tudo parecia indicar que se velava ali dentro.

- Será o Sr. D.





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