Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 14: XIV Pág. 162 / 519

.. O efeito era cada vez mais pronunciado.

O que tinha acabado de ouvir a Tomé aumentara-lhe aquela inquieta luta de espírito.

A ideia de inclinação recíproca de Berta e de Maurício irritava-o e afligia-o.

Não eram as consequências do facto que o assustavam. Jorge não acreditava na sinceridade das afeições de Maurício; sabia quanto elas eram fugazes e estava convencido de que a próxima partida do irmão bastaria para desvanecer essa paixão nascente.

E contudo não lhe saía do pensamento aquilo. Torturava-o aquela ideia, não lhe permitia repouso.

A consciência de Jorge aventurava, muito a medo, a vaga explicação deste enigma psicológico que se estava passando nele, mas Jorge recusava dar atenção àquela voz.

Há casos assim, em que nem connosco somos sinceros, em que se faz mais evidente do que nunca esta espécie de dualidade unificada em todo o indivíduo, porque guardamos discretamente de nós um segredo nosso, e lutamos connosco em oposição declarada.

A domínios tão íntimos da consciência seria porém irreverente levar a luz da análise; aguardemos que a ulterior evolução de factos melhor nos revele o segredo que ia no coração de Jorge.

Era já noite avançada, quando chegou aos ouvidos do pensativo rapaz o ruído duma porta que se abria; pouco depois passava Maurício pela extrema do bosque, cantando distraidamente:

Além naquela avenida

De plátanos e salgueiros,

Foi que em teus beijos primeiros

Bebi a primeira vida.

A luz do luar batia-lhe em cheio na figura e não o deixou passar incógnito.

Jorge, reconhecendo-o, chamou-o em voz alta.

Maurício parou surpreendido.

- Quem me chama?

- Sou eu.

- Tu? Jorge!

- Sim, pois quem havia de ser?

Maurício caminhou ao encontro do irmão.

- Transportas-me





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