Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 190 / 519

Amanhã espero que estarás mais senhor de ti.

- Estou a sangue-frio, creia.

- Veremos com mais vagar esse coração. É-me isso preciso para os meus planos.

- Os seus planos?!

- Então já te esqueceste que eu estou aqui principalmente por tua causa?

- Ah! sim, agradeço-lhe o cuidado; mas estou receando ter de dar-lhe muito que fazer.

- Veremos.

A noite chegou, e bem vagarosa para a impaciência de Maurício.

Pouco mais seria de Avé-Marias, já ele instava com os primos do Cruzeiro para que fossem pôr-se de vigia.

- Isso não vai assim - diziam eles. - Pois que cuidas tu? Não sabes que o pássaro é dos que só voam de noite? Fala-nos lá para as onze horas.

Maurício iludiu em todo este tempo a sua impaciência tentando provar aos primos com argumentos novos, que lhe tinham ocorrido em casa, a impossibilidade de ser para Berta a visita nocturna da Herdade.

Os primos respondiam rindo só com frases equívocas, que Maurício não compreendia.

- Olha cá, ó Maurício, - perguntou o mano doutor - em tua casa sabe-se do teu namoro com a filha do Tomé?

- Aí vens tu com o namoro!...

- Pois seja o que tu quiseres; da tua afeição, se achas mais bonito; mas sabem?

- Apenas o Jorge me fez a esse respeito algumas reflexões.

- Ah! O Jorge falou-te nisso?

- Há dias. Pelos modos o Tomé queixou-se-lhe...

- Ai, o Tomé queixou-se ao Jorge? Sim, senhor, tem graça. Que te parece, ó Lourenço?

- É bem bom! E então o Jorge deu-te conselhos, hem?

- Sim, disse-me alguma coisa; que era preciso cautela, que não era prudente o meu proceder...

- Ah!

- E quase me fez prometer que desistiria.

- Ah! fez-te prometer isso?

- Quase...

Os dois não podiam suster o riso.

- É impagável aquele Jorge! - repetia de quando em quando o padre.





Os capítulos deste livro