Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 195 / 519

Ordeno-te silêncio em nome de alguns restos de honra que ainda te deixassem intacta as companhias devassas que frequentas.

- Que é lá isso, priminho, que é lá isso? - acudiram imediatamente os dois manos.

Jorge não se intimidou.

- Não me assustam as suas ameaças. Sei agora o que significa esta espionagem e aquelas gargalhadas cínicas e alvares de há pouco. Cabe-lhes bem o papel degradante que desempenham aqui, e nem é de estranhar o conceito que formam das intenções dos outros, de que julgam pelas suas. O que lamento é ver-te associado a esta empresa, Maurício, porque, faço justiça ao teu carácter, deve repugnar-te intimamente o passo que deste.

- Em vez de sermões, priminho, não acha que seria melhor explicar-nos o que veio fazer a horas mortas a esta casa?

- Não sinto a necessidade de explicar as minhas acções diante de tais juízes. Pouco me importa a estima em que têm a minha reputação os senhores do Cruzeiro. Resignar-se-ão portanto a prescindirem das explicações que pedem.

Os dois riram-se maliciosamente. Jorge prosseguiu:

- Entendo esse riso. Conheço-os. Sei que depois da espionagem se segue a calúnia; mas o meu desprezo é muito grande para transigir. Caluniem.

- Ora essa! Nós sabemos guardar um segredo. Sossega.

- Sei qual é o alimento com que se nutre a sua ociosidade. Não importa. À vontade, meus senhores, têm a estrada livre e contem que não serei eu que os estorve naquela que costumam seguir, porque não a frequento.

Dizendo isto deu alguns passos para se afastar; depois, voltando-se para Maurício:

- Repara que já desceste o primeiro degrau da infâmia; espiaste; agora vê se desces o segundo, caluniando. Há naquela casa uma família tranquila e respeitada, ajuda agora esta gente a manchá-la de lama, ajuda; o insulto é fácil para quem não precisa de se abaixar muito para a apanhar.





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