- Ah! Maurício?!
- Sim, e o mais bonito é que esse também pelos modos tinha as suas pretensões, por passatempo já se sabe, olha o outro! a esse então tudo lhe serve. De maneira que hoje estão que nem uma palavra dizem um ao outro.
- Isso já eu notei; mas custa-me a crer que Jorge…
- E a todos. Pois aquele sonsinho…
- Não é isso o que eu dizia. O que eu acredito é que, sendo verdade o que me diz, Jorge ama deveras essa rapariga, e ele não tem carácter para abusar de alguém. Deus sabe o que de tudo isso pode resultar.
- Quer dizer a prima que é capaz de casar com ela?
- Sim, estou convencida de que, se ele a ama, formou já essa tenção e há-de cumpri-la.
- Tinha que ver a prima Berta da Póvoa!
- Eu lhe digo, para a menina talvez tivesse que ver, para mim, que já estou costumada a esses espectáculos, seria a coisa mais natural do mundo.
Assim informada do que se passava na sala, Gabriela observou com mais atenção Maurício e Jorge, e estudou nas fisionomias de ambos os vestígios daquele mistério.
Era manifesta a frieza que os separava naquela manhã. Evitavam-se tanto quanto podiam. As frontes de um e de outro estavam contraídas, e os sorrisos gelavam-se-lhes nos lábios sempre que queriam forçá-los a aparecerem.
- Será verdade que Jorge ame essa rapariga? Nesse caso deve ser uma paixão bem séria a dele - pensava Gabriela.
Nesse tempo a porta da sala abriu-se e D. Luís apareceu aos seus hóspedes vestido com aquele esmero e gravidade que sabia guardar em todos os actos da vida.
O fidalgo não tivera pressa em apresentar-se na sala.
Fizera-se substituir por Jorge na solenidade da recepção e na apresentação de Gabriela a todos os primos que ainda não a conhecessem.