Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 17: XVII Pág. 222 / 519

Frei Januário explicara a ausência do fidalgo atribuindo-a a incómodos habituais que somente mais tarde lhe permitiam sair dos aposentos.

A verdade, porém, era que D. Luís desejava encurtar, quanto lhe fosse possível, o tempo em que tinha de conviver com os seus parentes naquele dia dedicado aos deveres de hospitalidade.

Produziu alvoroço na sala a entrada de D. Luís.

Todos correram a cumprimentá-lo com aquela deferência que a índole séria e melancólica do fidalgo e a evidente superioridade da sua inteligência e educação a todos impunha.

- Como vais tu, D. Luís? - disse, apertando-lhe a mão um ex-coronel de milícias, que havia acabado, pouco tempo antes, de ameaçar com a espada que tinha em casa na gaveta todas as constituições do mundo. - Graças a Deus, que deste sinal de vida, homem!

- O primo D. Luís devia procurar mais distracções - acudiu a vigésima descendente de um dos guerreiros de Ourique.

- Ainda bem que a priminha Gabriela o veio tirar do seu letargo - acrescentou outra, ramo infrutífero de árvore igualmente ilustre.

O título de baronesa raros o concediam a Gabriela, porque era de origem suspeita para aqueles pechosos aristocratas.

D. Luís respondeu com forçado sorriso aos cumprimentos, dizendo:

- Devem procurar-se as distracções quando o espírito se não dá bem com ideias tristes. Mas isso não sucede comigo. Já não posso viver sem esta escura companhia dos meus pensamentos. O esforço para fugir-lhe mais me aflige.

- Ora essa! Sentir-se um homem bem com a tristeza! Ora essa! - estranhou o ex-miliciano.

- São contradições aparentes - disse Gabriela para o tio. - As saudades têm disso. Por isso lhe chamaram «gosto amargo e pungir delicioso».

- Quem é que lhes chama isso? - perguntou uma fidalga de óculos, um pouco sentimental e literata, que estava ao pé de Gabriela.





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