Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 18: XVIII Pág. 244 / 519

Mudou imediatamente de expressão. As lágrimas como que se lhe secaram aos estos da paixão que crescia nele. Ergueu a cabeça, que a tristeza acurvara. Assumiu aquela aparência majestosa que costumava apresentar aos olhos dos estranhos, e em tom não ríspido, porém menos cordial do que até ali, disse para Berta, que era agora para ele a filha de Tomé da Póvoa e já não a companheira de Beatriz.

- Berta, ia-me esquecendo o que me trouxe aqui. O coração domina-me ainda às vezes. Mas a crise passou. Vinha procurar teu pai. Visto que não o encontro, peço-te que lhe transmitas o meu recado. Soube hoje que um de meus filhos havia recebido dele adiantamentos de dinheiro a título de empréstimo para melhorar a nossa propriedade, e isto sem garantia alguma. Não sei a quanto monta a soma recebida, mas em todo o caso não posso aceitar o empréstimo... ou a esmola. A dívida há-de ser paga em breve tempo; mas, enquanto não o for, deixo em penhor de minha palavra aquela casa, que hoje mesmo abandono, e tudo o que nela se contém. As chaves aqui ficam. Virei a seu tempo buscá-las.

E, fazendo sinal ao procurador, tomou as chaves das mãos deste, que continuava a estar abismado, e entregou-as a Berta.

A estupefacção da rapariga era tal, que maquinalmente as recebeu, sem bem saber o que fazia.

- Parece-me que será bastante garantia - acrescentou D. Luís. - Se eu não sou vítima de uma perseguição do céu, espero resgatá-las ainda. Senão... Adeus, Berta.

- Mas - pôde enfim dizer a filha de Tomé, saindo da sua abstracção - isto não pode ser! Eu... nem sei o que estou fazendo. Por quem é, padrinho, meu pai não pode querer...

- Não te pertence julgar destes negócios, Berta. Faz o que te digo.

- Deixar a Casa Mourisca, a casa em que tem vivido sempre, onde nasceu e morreu Beatriz! E porquê?.





Os capítulos deste livro