Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 269 / 519

em luminosas noites de Estio; a de Jorge aparecia-lhe como a de um amigo leal e seguro, a quem se não confiam puerilidades do coração, mas de quem se pode esperar auxílio e conselho nas provações da vida; a de Maurício, porém, fora a que a imaginação que despertava colorira de mais sedutores reflexos. O seu campeão de infância assumira as formas nobres e prestigiosas dos heróis de todos os poemas de amor. Beleza própria de uma juventude varonil, coragem, generosidade, tudo quanto exalta e enobrece a alma, a fantasia daquela rapariga, entregue a si, elaborando a sós sobre as memórias do passado, associara ao nome de Maurício. Fora isto que Berta trouxera no coração para a sua aldeia. Era o seu romance. Tinha ela a razão bastante clara para não o tomar por outra coisa mais real do que um verdadeiro romance, e bastante poder de reflexão para não se deixar dominar por ele.

Percebendo que em Maurício não estavam ainda extintas também as memórias do passado, e que ainda os seus sentimentos presentes recebiam dele luz e calor, Berta assustou-se, desconfiou de si, e mais do que nunca procurou precaver-se, fugindo à influência do que se temia, mas cedendo a ela sem querer.

Seguiram-se, porém as cenas que sabemos: e o íris que rodeava Maurício aos olhos de Berta dissipou-se como um verdadeiro íris em tardes húmidas de Inverno.

O ideal de Berta não era somente belo, era generoso e impecável, e Maurício não atingia tão alto. O instinto do coração denunciou a Berta o segredo do carácter de Maurício; não havia depravação nele, somente leviandade e inconstância; mas já era bastante para o desprestigiar. Nem leviano, nem inconstante era o Maurício que sonhara. Pelo contrário, de dia para dia lhe aparecia mais na sua verdadeira luz o carácter de Jorge, desse rapaz honesto, generoso, grave, respeitado por todos.





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