Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 291 / 519

Poderia deixar de insinuar-se em um coração aberto a sentimentos generosos, como era o de Berta, esse rapaz de vinte anos, diante de quem os velhos se descobriam, cheios de respeito pelas suas nobres qualidades de alma e pela superioridade da sua inteligência?

Uma outra causa influíra, porém, além destas, no espírito de Berta e no mesmo sentido que elas; ainda que à primeira vista se pudesse julgar que diversa deveria ter sido a sua acção.

Esta causa fora a frieza, a quase hostilidade delicada com que Jorge a tratava. Berta não se iludia. Via bem claro que Jorge lhe falava sempre constrangido, e como se tivesse pressa de interromper um diálogo que o impacientava. Às vezes havia nas palavras, que dele obtinha, um leve tom de ironia, que ela não sabia a que atribuísse. Este proceder de Jorge deu que pensar a Berta. Formando um conceito elevado do são juízo e da seriedade do jovem amigo de seu pai, convencia-se de que aquelas maneiras frias com que era tratada por ele, não podiam deixar de ter um fundamento. E este fundamento oculto procurava-o Berta com ânsia em si mesmo, estudava profundamente o seu próprio carácter, na esperança de descobrir a solução deste enigma que a afligia; e ao mesmo tempo estudava em Jorge o efeito dos esforços com que fazia por vencer aquela prevenção, qualquer que fosse.

Sucedeu o que era natural que sucedesse. Não é sem perigo que a imaginação de uma rapariga como Berta se entrega ao estudo de um carácter de rapaz como o de Jorge, que lucra sempre em ser estudado e conhecido. À medida que caracteres como este melhor se observam, mais virtudes se lhes descobrem, ao inverso de outros, cujos vícios latentes vão pouco e pouco transparecendo no decurso de uma atenta observação, e destruindo a impressão favorável que ao princípio produziram.





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