Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 295 / 519

Jorge atalhou:

- Eu é que me esqueci de pedir a Berta perdão por haver dado ensejo, com os meus actos, a que o seu nome andasse por bocas de pessoas a todos os respeitos indignas de pronunciá-lo. Coisas minhas; ando tão alheio ao trato do mundo, que a cada passo caio nestas imprudências, e sacrifico os outros, sem o querer. Berta tem razão para estranhar este carácter bravio; mas espero que me perdoará.

Berta ia a responder, mas era tal a sua comoção, aumentada pelo modo por que Jorge dissera estas palavras, que sentiu não lhe ser possível formular uma resposta; os olhos inundaram-se-lhe de lágrimas e o rosto traiu-a.

Levantando-se agitada, saiu da sala em silêncio, como se precisasse de estar só para desafogar em lágrimas a opressão que a angustiava.

Luísa viu-a sair e ficou admirada. Olhou para Jorge com estranheza, olhou para a porta, como se não soubesse explicar a cena a que assistira.

- Estas raparigas têm uns modos! Já viram uma coisa assim?! - murmurou ela, passada a primeira surpresa.- Queira perdoar, Sr. Jorge.

Igualmente enleado, Jorge procurou mudar o sentido da conversa, falando outra vez de Tomé, em procura do qual saiu poucos minutos depois.

Assim que o viu deixar a sala, Luísa ficou pensativa por algum tempo e no fim disse em voz alta, como era costume seu:

- Deixá-los. Se assim fosse, tanto melhor. Coisas mais incríveis se têm visto. Seja o que Deus quiser!

Ao passar no patamar das escadas que davam para o quinteiro, Jorge encontrou ali Berta, que parecia esperá-lo. Cortejando-a, procurou nos olhos dela o vestígio de lágrimas.

- Sr. Jorge - disse-lhe Berta, com voz triste e levemente trémula -, perdoe-me a minha perturbação de há pouco. Fui obrigada a sair da sala sem lhe dizer nem uma simples palavra de agradecimento por o muito que lhe devia; mas creia que não é porque o desconheça.





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