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Capítulo 23: XXIII

Página 322
daquela casa abandonada, à hora misteriosa do escurecer do dia, aqueles sons, ressoando pelos longos corredores e pela vastidão das salas desertas, tinham de facto não sei quê de sobrenatural; dir-se-ia música de fadas em um desses paços encantados que ergue no meio das florestas a imaginação popular.

Mas não era somente o inesperado e a estranheza do facto que feriam de espanto o senhor da Casa Mourisca. Aqueles sons exerciam sobre ele outra e superior influência.

Conhecia-os; não eram vozes estranhas aos ouvidos do ancião ralado de saudades, e que se achava ali atraído por elas.

Conhecia-os; em outras épocas tinham já ressoado entre aquelas tristes paredes e sob os altos tectos dos aposentos desabitados. Nesses tempos, havia ali dentro corações que pulsavam de simpatia ao escutá-los. Eram o sinal de que o anjo da família velava, de que a meiga criança, sobre cuja cabeça se condensavam todos os castos afectos daquela alma de homem, praticava com os anjos, seus irmãos, na misteriosa linguagem da música.

Aqueles sons... podia ele desconhecê-los?... eram os da harpa de Beatriz.

Mas que mistério revelavam eles agora? Que magia os fazia renascer, quando, havia tanto, caíra gelada a mão que os desferia?

As sombras dos mortos teriam vindo povoar a casa abandonada pelos vivos? A alma querida de Beatriz viera por ventura chorar e lamentar-se da solidão em que os seus haviam deixado os lugares que ainda conservavam tão vivas as memórias dela?

Quem pode analisar o confuso turbilhão de ideias que atravessou naquele momento o espírito do fidalgo?

Piedosas crenças da infância, superstições que a razão subjugara, quiméricos produtos de um cérebro febril, tudo se levantou em enxame alvoroçado e revolto a obscurecer a inteligência do ancião que tremia sob um inexplicável terror.

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pág. 322 (Capítulo 23)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 322

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515