- Mas quando, como no meu caso, não há garantias a oferecer, o empréstimo é bem parecido com a esmola, deve confessar.
- Não há garantias? Quem foi que lhe disse isso? E a sua probidade? … Sabe que mais? Eu sempre lhe vou contar a minha história e verá depois se tenho razão no que digo.
E Tomé da Póvoa, conduzindo Jorge para a sombra da ramada que toldava a nora, na roda da qual se sentaram ambos, principiou:
- Quando saí da casa de seu pai, por esta vontade, às vezes bem doida, que a gente tem de trabalhar por sua conta, empreguei algum dinheiro, que juntara, em arrendar um casebre e uma horta, da qual, lidando do romper do dia até à noite, tirava, quando muito, o preciso para não morrer de fome. O menino sabe aquela nesga de campo que eu tenho ao pé dos açudes e o palheirito que fica ao lado?
- Bem sei.
- Pois foi essa a minha primeira casa. A Luísa, com quem por esse tempo casei, trabalhava tanto como eu, e assim íamos vivendo, sabe Deus como, mas pagando pontualmente o nosso aluguel e sem ficar a dever nada na tenda. O meu senhorio era um homem muito rico e muito de bem. Deus lhe fale na alma! O menino há-de ter ouvido falar dele: era o doutor Meneses, pessoa de muito saber e que tinha sido da Relação do Porto.