Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 341 / 519

- E podes negar que o és? - prosseguiu Gabriela. - Ora fala-me com franqueza. Resignar-te-ias sem pesar à ideia de passar o resto da tua vida esquecido e obscuro neste canto da província, tendo por única diversão uma caçada de lebre? Conformar-te-ias com as modestas aspirações de Jorge, que se satisfaz com dirigir em bom caminho a administração desta casa? Não sonhas muita vez com a brilhante sociedade dos salões da capital, onde todas as aristocracias se confrontam, onde se trata com tudo quanto há de elegante, de nobre, de distinto nas ciências, nas letras e nas artes? Não tens já sentido a ansiedade de viajar, de te engolfares nos focos de civilização moderna; finalmente de viver em um mundo onde os teus talentos, as tuas qualidades possam ser devidamente apreciadas?

- É muito lisonjeira, prima Gabriela. Mas, quando eu sonhasse com tudo isso... E não negarei que mais do que uma vez essas fantasias me tenham enlevado, mas de que me serviria? Acaso o mundo está à minha espera para me patentear todas as portas desses lugares de fascinação?

- Para os rapazes de vinte anos, de talento e de vontade, não há barreiras no mundo. Querer é poder. O mundo é menos feroz do que parece. Quando alguém se aproxima dele com a intrepidez e o arrojo do domador, esta terrível fera abaixa a cabeça e não ataca.

- E qual pode ser a minha carreira neste mundo?

- Não se escolhe de longe. Na presença dos caminhos escuta-se uma voz interior, que nos diz: «Por aqui.»

- Mas creia que eu sou um inexperiente. Fora destes ares sentir-me-ia embaraçado.

- Eu prometo acompanhar-te nos primeiros passos.

- Somente nos primeiros?

Maurício fez a pergunta com uma entonação de voz e com um olhar que causaram estranheza a Gabriela.

Fitou-o, como para perscrutá-lo, e depois, com um sorriso malicioso nos lábios, tornou-lhe:

- Pareceu-me perceber uma música de galanteio nessa pergunta.





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