Luís pelo bem que ela própria lhe fazia.
Um dia Berta erguera-se, como costumava, muito cedo para correr a quinta a fim de colher o ramo com que adornava a mesa do almoço de D. Luís.
Todos os dias se renovava este ramo e todos os dias o fidalgo consagrava alguns momentos ao exame e à análise das diversas flores que o compunham.
Berta esmerava-se muito nesta tarefa para obter sempre efeitos novos, que merecessem as atenções e aplausos do padrinho.
Nesta exploração atingia ela sempre os términos da quinta. Chegara aquela manhã ao portão de ferro da entrada oposta à casa e trazia já na mão uma variada cópia de flores, quando lhe pareceu que alguém parava de fora das grades a observá-la.
Voltou-se e reconheceu Clemente.
Berta estremeceu e sentiu sobressaltar-se-lhe pouco agradavelmente o coração à vista do seu noivo. Tão longe tinha naquele instante o pensamento do futuro que a vista de Clemente lhe recordava, que a surpresa da transição foi cruel.
Demais era a primeira vez que se achava na presença de Clemente depois do ajuste do casamento, o que sobremaneira aumentara a sua confusão.
Concentrando, porém, toda a sua coragem, saudou-o afectuosamente.
Mais confuso ainda do que ela, retribuiu-lhe Clemente a saudação.
- Quer entrar? - perguntou Berta, caminhando para a portaria.
- Não, menina; passei aqui por acaso... É verdade que desejava falar-lhe... mas outra vez será.
- E porque não há-de ser já? - tornou Berta, abrindo a porta. - Depois do que se passou é indispensável que conversemos, não é verdade? Eu também tenho precisão de falar-lhe, Sr. Clemente.
- Nesse caso aqui estou para ouvi-la, Berta.
- Olhe, sentemo-nos mesmo aqui. Não acha? - disse Berta, preparando lugar em um montículo de relva que as folhas caídas tapetavam.