- Está-se aqui tão bem como dentro de uma sala.
Clemente tomou timidamente lugar ao lado dela.
Berta soltou no regaço as flores que colhera, e falando ocupava-se a dispô-las em ramo, como se facilitasse daquela maneira o desempenho da missão que se propunha.
Clemente escutava-a.
- Está já informado, Sr. Clemente, do que respondi à proposta que, em seu nome, me fez... o filho do Sr. D. Luís?
- Sim, Berta, deram-me essa resposta, que muito me alegrou; mas desejava saber da sua boca se foi de livre vontade e porque lho ditava o coração que a deu assim.
- Por minha vontade foi. Ninguém me obrigou a responder como respondi. Agora se foi do coração... Era sobre isso mesmo que eu desejava falar-lhe, Sr. Clemente.
Clemente respondeu um pouco inquieto:
- Fale, Berta, que eu escuto-a com atenção.
- Sr. Clemente, devo ser franca e leal consigo, e fazer-lhe uma confissão completa dos meus sentimentos, para que pense bem antes de se resolver a dispor assim do seu futuro. Não posso dizer que fosse o coração que me ditasse a resposta que dei. Se o dissesse, nem o Sr. Clemente me acreditaria; não é verdade? Bem vê, eu mal o conhecia, quase que nem tínhamos falado ainda, eu vivi até agora longe de si e nenhum de nós costumava pensar no outro. Pois não é assim? Quando ouvi a sua proposta, surpreendeu-me por inesperada; respondi como sabe; mas é claro que não podia ser do coração a resposta.
Clemente fez um gesto de assentimento, mas tornou-se melancólico.
- Mas, perguntará o senhor, porque respondi eu então assim, tão pronta, sem hesitar? Vou dizer-lho, Sr. Clemente, vou dizer-lhe toda a verdade, e resolva depois o que deve fazer. Eu não podia esperar que o coração respondesse, porque sabia que ele já não podia dizer que sim a uma proposta daquelas.