Por isso D. Luís, com ânimo folgado e um sorriso expansivo a alisar-lhe na fronte e nos lábios a contracção habitual, apressou-se a responder ao pedido nas mais benévolas e lisonjeiras frases que lhe inspirava o seu bom humor.
Berta veio dar com ele sentado à secretária a escrever. A filha do Tomé da Póvoa quis retirar-se para não o interromper.
D. Luís, conhecendo-lhe os passos, disse sem desviar os olhos do papel em que escrevia:
- Entra, Berta, entra, que não me incomodas.
E, sentindo-a mais perto, acrescentou:
- Sabes o que estou fazendo?
- A escrever; bem vejo.
- Sim; mas a quem?
- A seu filho Maurício talvez.
- A Maurício e a Gabriela também. E sabes a respeito de quê?
- Eu, não.
O fidalgo terminava naquele momento a assinatura no extremo inferior da página, e só depois de concluí-la foi que, voltando-se para Berta, continuou:
- Autorizo um casamento.
- Um casamento?!
- É verdade. Havia alguém de supor que o Maurício se casava?!
- Casa-se! Com quem?
- A ver se adivinhas.
Berta reflectiu alguns instantes.
- E eu conheço a noiva?
- Conheces perfeitamente.
- Então não pode deixar de ser a Sr.ª baronesa.
- Justamente. É Gabriela.
- É uma felicidade para ele.
- Assim também o julgo. Se alguém se aventura, neste casamento, é a noiva.
- O Sr. Maurício tem uma boa alma, não dará motivos de arrependimento a quem depositar confiança nele.
- Hum! É muito rapaz - murmurou o fidalgo, fingindo sentir contra o filho maiores prevenções do que efectivamente sentia. Berta julgou que era ocasião oportuna de pôr em prática um projecto que desde madrugada meditava.