Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 32: XXXII Pág. 444 / 519

E por isso eu que digo que o tal casamento não deve fazer-se, é porque...

- E então criança sou eu, para tu nem sequer me dares a importância de me dizer o porquê? Olha que teu pai até bem velho se aconselhou comigo, apesar de ser homem ajuizado, e não tenho lembrança de o haver feito nunca arrepender por isso. Olha agora!

- Pois também eu lhe digo tudo, mas é se vir a mãe mais bem-disposta a ouvir-me com sossego.

- E parece-te que eu estou desassossegada? Ora valha-te não sei que diga. Em piores talas me tenho visto na minha, sem perder a cabeça. Boa mulher estava eu se me estonteava assim à primeira. Olha agora! Anda, diz lá.

- Pois, minha mãe, este casamento não tem lugar, porque Berta... enfim...

Ana do Vedor franziu o sobrolho.

- Berta o quê? Que disse ela? Disse que não? Olha a presumida! Então quem acha ela que é? Sempre se vêem coisas no mundo! Olha agora! Então ela disse que... Ó senhores, não estar eu lá! sempre queria perguntar-lhe...

- Valha-me Deus, minha mãe, é essa a paciência que me prometeu? Nem me deixa concluir, nem espera por saber o que vou dizer.

- É porque eu cuidei que ela... sim, porque isso então...

- Ouça, Berta aceita, mas não tem verdadeira inclinação para mim.

- E por que não?

Clemente sorriu ao ouvir a pergunta.

- Ora essa! - repetiu ele brandamente - então nestas coisas precisa-se de se dar razões? Gosta-se, porque se gosta; não se gosta, porque se não gosta, e acabou-se.

- Mas enfim uma pessoa sempre diz: Não gosto daquele, porque é feio; daquele, porque é torto, ou porque é aleijado, ou porque tem mau génio, por isto ou por aquilo, eu sei lá! Mas tu...

- Sim, eu não tenho defeito que me faça enjeitar, heim? Se todos me vissem com os seus olhos, minha mãe!

- Ora, mas vem cá, mas diz-me então.





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