Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 33: XXXIII Pág. 456 / 519

- Não a entendo, ti’Ana.

- Ora a coisa é simples. E vocês o que devem é erguer os olhos mais para o alto.

- Ó ti’Ana, se quer que a entenda, fale-me claro e cá à nossa moda: pão pão, queijo queijo.

- Pronto. Para aí vou eu. Pois aí tem: o casamento da sua rapariga com o meu rapaz foi caso falado e acabou-se.

- Acabou-se? Como acabou-se? Por quê?

- Porque Berta não tem para aí o sentido.

- Olha essa! Então ela não disse...

- Disse, sim, senhor, disse que casava, e também o disse a meu filho, mas acrescentou que não lhe levaria o coração consigo.

- Berta disse isso? Quando? A quem? A Clemente? Não pode ser!... Mas não leva o coração... Por quê?

- Porque já não o tem.

- Como já não o tem?

- Porque já fez presente dele.

- Que está a dizer, ti’Ana? Já fez presente do coração! Berta? A quem?

- Ora diga a verdade, Tomé, não suspeita mesmo, mesmo de ninguém?

- Na minha salvação, que não.

- Pois olhe que é verdade.

- Mas a quem?

- A uma pessoa que vinha por aqui.

- A uma pessoa que vinha...

- Ai, Tomé, que bem o suspeitava eu - exclamou Luísa, juntando as mãos.

- Cala-te, mulher; aí voltas tu com as tuas tolices; mas diga, ti’Ana...

- Que suspeitavas tu, Luísa?- perguntou Ana do Vedor.

- Que eles tinham alguma inclinação um para o outro.

- Eles quem?

- Ninguém, ninguém. Esta minha mulher de vez em quando tem visões.

- Eles quem? - insistia a Ana do Vedor.

- A nossa rapariga e...

- Cala-te, Luísa, tu não tens vergonha? - atalhou o marido.

- E quem mais? Acaba - repetiu Ana.

- E o fidalgo - completou timidamente Luísa.

- Jorge? Pois adivinhaste.

- Ah! - exclamou Luísa, com natural satisfação.

- O quê? - bradou Tomé, erguendo-se com ímpeto e corando - adivinhaste? adivinhou? Quem?.





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