- Quando quiserem fazer esse disparate, façam-no. Levem daí a rapariga, sacrifiquem-na à sua vontade, mas não me peçam o consentimento, porque eu estou com os pés na cova e não quero levar para a sepultura mais remorsos.
A mãe de Clemente não estranhou esta resposta azeda do fidalgo, que de propósito provocara.
Picada porém no seu orgulho materno por algumas frases que ouvira, acudiu logo:
- Que está o fidalgo a dizer? Disparate... remorsos... Que disparate acha o fidalgo no casamento de Berta com o meu Clemente? Remorsos! Ora essa está boa! Nem que se tratasse de enforcar alguém! Ora esta! Olha agora!
- Ana, eu não quero ofender o seu filho, que sei que é bom rapaz, mas o que ele não é, é homem para Berta.
- E onde é que V. Ex.ª vai buscar marido para Berta? O meu Clemente não serve? Pois bem, como a rapariga não está para freira, diga-me V. Ex.ª que faz tenção de a casar na sua família, e eu calo já a boca e sou a primeira a dizer: «Tem razão o fidalgo, a pequena encontrou marido muito melhor do que o meu filho». Ah! eu já estou vendo a cara que V. Ex.ª faz. Pois então, Sr. D. Luís, se V. Ex.ª ainda se tem lá nas suas tamancas, como dantes, deixe casar a rapariga com um homem honrado e não lhe ande a meter loucuras na cabeça, que isso até é uma consciência! Olha agora!
D. Luís sentiu que lhe fugia o terreno neste campo e tentou uma evasiva.
- Não teria que dizer a esse casamento se Berta sentisse inclinação para o seu filho, mas...
- Mas o quê? Pois não foi ela que por sua livre vontade disse que sim? Quem a obrigou? Ora essa!
- Por comprazer, por condescendência, mas não porque lho pedisse o coração!
Ora, e V. Ex.ª a importar-se com o que pede o coração de uma rapariga, ora, ora...
- E porque não? Desgraçada dela se der um passo tal sem que lho aprove o coração.