- Olhe, Ana, olhe, se vir aí fora a pequena, diga-lhe que venha cá; se aí não estiver... mande chamá-la, sim? Eu quero falar-lhe.
- Olhe lá o que vai dizer-lhe, fidalgo! Não aflija a pobre rapariga, que bem lhe basta...
- Faça-me o que lhe peço, Ana, faça, e vá descansada.
- Sempre me deixe dizer-lhe, fidalgo, que, se não quer perder o filho, ande com cautela neste negócio.
A Ana do Vedor, que não obteve resposta a esta última advertência, saiu duvidando de que tivesse tirado alguma utilidade do passo que deu junto do fidalgo, e quase arrependida por o haver dado.
D. Luís ficou só por algum tempo, com a cabeça escondida entre as mãos e os cotovelos apoiados nos braços da poltrona.
- Até que ponto levareis esta provação, meu Deus?! - murmurava ele quase soluçando.
Passados momentos entrava no quarto e avançava timidamente com hesitação ao encontro do velho, Berta, com os olhos ainda chorosos e o gesto comovido.
Ao rumor dos passos leves de Berta, o fidalgo elevou a cabeça e fitou a afilhada com expressão de melancolia e afecto.
- Anda cá, Berta; vem cá, minha filha. Então não vês como eu pago os cuidados que tens tido comigo? Que queres tu? Isto em mim é já loucura!
Ao tom afectuoso e triste destas palavras dissipou-se a hesitação de Berta, que correu a ajoelhar-se junto do velho, pegando-lhe nas mãos enternecida:
- Não diga isso, Sr. D. Luís. - Eu bem sei que eram impaciências de doente.
D. Luís segurou-lhe a cabeça entre as mãos e, olhando-a fixamente, murmurou:
- Pobre criança! Fiz-te chorar! Nem que te não bastassem os teus sofrimentos. Perdoa-me, minha filha. Tu não tens culpa no que os outros fazem. Não é possível que tenhas culpa.
E beijava-lhe os olhos, onde de novo queriam aparecer as lágrimas.