Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 34: XXXIV Pág. 470 / 519

- Perdoar-lhe? O que lhe hei-de eu perdoar? A afeição que me tem? Só se for isso.

- Aí vêm outra vez as lágrimas! Enxuga-as. Não quero fazer-te chorar mais. Não faças caso do que eu digo, Berta, que sou um tonto. É uma ingratidão de minha parte, uma feia ingratidão.

- O que me faz pena é vê-lo aflito. Cuidei que estava pior.

- Não; é que essa mulher que daí saiu disse-me coisas...

E, olhando outra vez finamente para Berta, acrescentou depois de alguma hesitação:

- Berta, tu és sinceramente minha amiga?

- Ó meu padrinho. Que pergunta!

- Nem tu eras capaz de fingir um afecto que não sentisses. Creio bem.

- Porém, meu Deus, o que quer dizer com isso?

- Nada. Olha cá, Berta... Quando tu vieste para os Bacelos... quando vieste para ao pé de mim... foi teu pai que te disse que viesses, não foi?

- Meu pai leu-me a carta da Sr.ª baronesa, em que participava que ia partir para Lisboa e que o Sr. D. Luís ficava sem ter quem o tratasse... e eu então lembrei-me do mesmo que meu pai já tinha também no pensamento e pedi-lhe para me deixar vir.

- E ele disse logo que sim, já se sabe?

- Se era essa mesma a sua ideia.

- Ah! era essa a sua ideia? E... e Jorge não foi ouvido nessa ocasião? Porque Jorge ia muito por vossa casa, não ia?

Berta principiava a sentir-se inquieta com esta inquirição.

- O Sr. Jorge - respondeu ela um pouco a medo - ia às vezes procurar meu pai para falar de negócios com ele; mas nisto não foi consultado, que eu saiba.

- Algumas vezes. Parece que ia todos os dias e que usava em vossa casa de toda a familiaridade.

- Era raro que se demorasse a conversar com outra pessoa que não fosse meu pai.

- Pois nem contigo?

- Comigo? - repetiu Berta perturbada. - Comigo menos do que com os outros.





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