- Perdoar-lhe? O que lhe hei-de eu perdoar? A afeição que me tem? Só se for isso.
- Aí vêm outra vez as lágrimas! Enxuga-as. Não quero fazer-te chorar mais. Não faças caso do que eu digo, Berta, que sou um tonto. É uma ingratidão de minha parte, uma feia ingratidão.
- O que me faz pena é vê-lo aflito. Cuidei que estava pior.
- Não; é que essa mulher que daí saiu disse-me coisas...
E, olhando outra vez finamente para Berta, acrescentou depois de alguma hesitação:
- Berta, tu és sinceramente minha amiga?
- Ó meu padrinho. Que pergunta!
- Nem tu eras capaz de fingir um afecto que não sentisses. Creio bem.
- Porém, meu Deus, o que quer dizer com isso?
- Nada. Olha cá, Berta... Quando tu vieste para os Bacelos... quando vieste para ao pé de mim... foi teu pai que te disse que viesses, não foi?
- Meu pai leu-me a carta da Sr.ª baronesa, em que participava que ia partir para Lisboa e que o Sr. D. Luís ficava sem ter quem o tratasse... e eu então lembrei-me do mesmo que meu pai já tinha também no pensamento e pedi-lhe para me deixar vir.
- E ele disse logo que sim, já se sabe?
- Se era essa mesma a sua ideia.
- Ah! era essa a sua ideia? E... e Jorge não foi ouvido nessa ocasião? Porque Jorge ia muito por vossa casa, não ia?
Berta principiava a sentir-se inquieta com esta inquirição.
- O Sr. Jorge - respondeu ela um pouco a medo - ia às vezes procurar meu pai para falar de negócios com ele; mas nisto não foi consultado, que eu saiba.
- Algumas vezes. Parece que ia todos os dias e que usava em vossa casa de toda a familiaridade.
- Era raro que se demorasse a conversar com outra pessoa que não fosse meu pai.
- Pois nem contigo?
- Comigo? - repetiu Berta perturbada. - Comigo menos do que com os outros.