Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 37: XXXVII Pág. 506 / 519

Tu sofres, Jorge, e sofres por minha causa, não é verdade?

- Meu pai - dizia Jorge, cada vez mais embaraçado.

- Eu sei tudo. Sei do amor que se te formou no coração e que disputou o teu pensamento aos projectos de reabilitação que empreendeste para salvar esta casa da ruína que os nossos e eu lhe preparamos; da tenacidade com que combateste esse amor, da coragem com que o sacrificavas aos meus princípios aristocráticos, apesar de veres apenas neles meros preconceitos de classe.

- Creia-me, meu pai, que respeito as suas opiniões e que...

- Ouve-me. Orgulho-me com o teu cáracter; vi nele a nobre têmpera de um verdadeiro fidalgo, e desde então creio deveras que a regeneração da nossa casa, empreendida por um homem como tu, não pode deixar de realizar-se. Vou sem este peso para a sepultura. Os meus erros ser-me-ão relevados por o facto de te ter por filho. Tu reabilitarás a minha memória. Jorge, o meu coração não tem já a dureza de outros tempos; males de toda a espécie acabaram de vencê-lo; agora é um coração de homem. Por isso me é intolerável a ideia do teu sacrifício. Se tu participasses dos meus... preconceitos, era justo que lhes sacrificasses todos os afectos; sentirias na satisfação interior a compensação do sacrifício. Mas sacrificares-te só por meu respeito, sem teres a mesma fé no objecto a que te sacrifi-cas... Nisso não posso eu consentir. Reunirei as minhas forças para subjugar alguns restos de vaidade que se revoltem, e antes de morrer desviarei o único obstáculo da tua felicidade, dizendo-te: «Podes ser feliz, Jorge». Além de que, tu és nobre bastante para enobreceres aquela que cingires ao coração e ficares nobre ainda.

Jorge percebeu o sentido das palavras do pai.

Em extremo surpreendido pela inesperada





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