Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 37: XXXVII Pág. 508 / 519

Por isso sentia-se agora irresoluto, sem saber se devia ceder ao coração e às insinuações do pai, se resistir em nome do dever, que ele chegara a convencer-se opor-se à satisfação dos seus ardentes votos.

Na hesitação do filho, D. Luís julgou perceber que o orgulho aristocrático penetrava já naquele coração de vinte anos, e ele, que sabia por si as resistências que esse orgulho gerava, assustou-se com a apreensão de ficar vencido pela obstinação do filho.

Assustou-se, dizemos, porque o espírito do fidalgo estava completamente subjugado. O egoísmo da sua idade não podia já passar sem os carinhos de filha. Não queria revelar-se inteiro e desejava que fosse a paixão do filho que aparentemente explicasse a transigência.

Era ainda custoso ao seu orgulho ceder, mas já não tinha fortaleza para resistir. Ansiava por isso que Jorge lhe fornecesse o pretexto. Vendo-o vacilar, tremeu já de encontrar um obstáculo insuperável.

Jorge pela sua parte era vítima de um quase estonteamento, que não lhe deixava ainda ver claro. Tão costumado estava a acreditar que invencíveis resistências se erguiam contra a mais ardente aspiração de sua alma, que, ao vê-las removidas de súbito, olhava em volta de si como aguardando que surgissem outras em seu lugar, e sem poder crer que a felicidade viesse colocar-se-lhe ao alcance da mão.

D. Luís insistiu:

- Não, Jorge, não aceito o teu sacrifício. Estou para despir as vaidades do mundo. Na outra vida, onde os primeiros são os últimos, não me perseguirão estas paixões mundanas.

- A ter um de nós de lutar com uma paixão, para condescender com a do outro, compete-me fazê-lo. Na minha idade é mais fácil tentar estas lutas com êxito.

D. Luís a custo reprimiu a sua impaciência.

- E ela? Jorge, lembra-te que essa menina ama-te, e talvez não tenha a força de alma que tu tens.





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