Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 1: I Pág. 7 / 519

Havia-a confiado ao camarada para que a entregasse àquela a quem tanto queria.

D. Luís não só permitiu que o soldado fizesse a entrega em mão própria da esposa, mas deixou-o com ela em larga conferência, não querendo que a sua presença a reprimisse na ânsia natural de saber as menores particularidades da vida e da morte do infeliz, de quem o emissário fora companheiro inseparável. Não se limitou a isso a tolerância do fidalgo. Viu, sem fazer a menor reflexão, que o mensageiro se demorava alguns dias na Casa Mourisca, e não opôs resistência alguma ao pedido que a esposa mais tarde lhe fez para que o deixasse ficar ali, no lugar do hortelão que falecera.

Este facto insignificante foi de não pequena influência nos destinos daquela família.

Os filhos de D. Luís, criados no meio dessa corte de província, cresciam sob influências que actuavam de uma maneira contraditória sobre os seus caracteres infantis.

Não lhes faltavam mestres que os instruíssem, que muitos eram os habilitados para isso nas salas do fidalgo, refúgio de tantos ilustres descontentes. Graças a estas especiais condições, puderam os dois rapazes receber uma educação difícil de conseguir em um canto tão retirado da província como aquele era.

Mas, ao lado da lição dos mestres, que, juntamente com a ciência, se esforçavam por imbuir-lhes os seus princípios políticos, aos quais se atinham como a artigos de fé, havia uma outra lição mais obscura, mas porventura mais eficaz. Era a lição da mãe e a do veterano.

A esposa de D. Luís era uma senhora de esmeradíssima educação e de um profundo bom senso. Amava o marido, mas via com pesar os excessos a que o impeliam as suas opiniões políticas. Educada no seio de uma família liberal, possuía sentimentos favoráveis às ideias novas; mas sabia guardá-los no coração, para não despertar conflitos na família.





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