Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 1: I Pág. 9 / 519

Mas dias de maior provação estavam reservados para esta família.

A munificiência que o senhor da Casa Mourisca mantivera no voluntário desterro, a que se condenou, obrigara-o a enormes e perigosos sacrifícios.

D. Luís nunca propriamente se ocupara da gerência dos seus bens. Fiel aos hábitos aristocráticos dos seus maiores, deixara desde muito a procuradores todos os cuidados de administração, e de quando em quando recebia deles a notícia de que a sua casa se estava perdendo, sem que se lembrasse de perguntar a si próprio se não seria possível opor um obstáculo àquela ruína.

O padre Januário, ou frei Januário dos Anjos, velho egresso, homem de letras gordas, que se estabelecera comodamente naquela acastelada residência como em sua casa, era um desses procuradores.

Faça-se justiça ao padre, que não era de má-fé, nem em proveito próprio, que ele apressava, com mão poderosa, a decadência de D. Luís. Mas, homem de curtas faculdades e de nenhum expediente financeiro, se obtinha capitais para o seu constituinte, nas crises mais apertadas, era sempre sob condições de tal natureza que deixava de cada vez mais onerada a propriedade e mais irremediável o triste futuro dela. Sucedeu pois o que era de esperar. Dispersou-se a corte de D. Luís. Por muito que fizessem os administradores da casa para a manter no costumado esplendor, cedo principiaram a transparecer os sinais da declinação. Foi o aviso para a debandada. Uns porque delicadamente compreenderam que a sua permanência concorreria para aumentar as dificuldades com que o fidalgo já lutava; outros porque aspiravam melhores auras, longe dali, em solares menos estremecidos pelo vaivém da adversidade; é certo que todos se foram retirando a um por um, e deixaram a família só.

Aumentou, com este isolamento, a taciturnidade do fidalgo.





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