Berta abanou a cabeça com ar de dúvida e quase de tristeza, e tornou sobressaltada:
- Parece-me que os que melhor dizem dessas coisas são os que menos sentem.
- Também lhe ensinaram a desconfiar, Berta?
- É tão fácil ensino! Cada um aprende por si.
- Vamos - interrompeu Tomé - , nada de estar parados no meio da estrada. Lembra-te, Berta, de que tua mãe a estas horas não faz outra coisa mais do que espreitar da janela a ver se te vê chegar.
- Vamos lá.
Maurício dirigiu o cavalo para o lado do de Berta, que cavalgava assim entre o fidalgo e o pai.
- Que saudades me estão fazendo estes sítios! - dizia Berta, suspirando e enquanto corria a vista pelo horizonte que a rodeava. - Tudo me é tão conhecido ainda!
- Lembra-se daqueles freixos, lá em baixo, ao descer para os Palheiros Queimados? - perguntou Maurício, apontando para o lugar que designava.
- Bem sei. É onde está a fonte da Moira.
- E aonde nós fomos um dia com a Ana do Vedor colher agriões. Está certa?
- É verdade. E por sinal que nos saiu da quinta do Emigrado um cão grande que lá havia, e que se atirou a mim com uma fúria!
- E não se lembra de quem lhe acudiu?
- Sim, foi o Sr. Maurício, mas também lhe valeu a Ana do Vedor, que, se não fosse ela, vamos, não sei o que seria.
- Ainda assim não impediu que o endiabrado me mordesse no pulso; ainda conservo a cicatriz. Olhe.
E Maurício mostrou o pulso a Berta, que se curvou para observar o vestígio daquele episódio de infância.
- É verdade, - prosseguiu Berta, já mais à vontade - e a boa ti’Ana do Vedor, que tanto lhes queria, a si e ao Sr. Jorge? Sei que vive; mas é o que era dantes, alegre, robusta, franca?…
- Quem? A ti’Ana?! - acudiu Tomé. - Verás, Berta, que ainda te parece mais nova.