Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 176 / 519

D. Luís abanou a cabeça, mais triste e sombrio do que antes.

- Na sua idade, Gabriela, cicatrizam depressa as feridas. Quando se chega aos meus anos, golpe que se recebe é ferida com que se morre.

- Diga o Sr. D. Luís - interveio o padre - que o que tem é muita resignação cristã, que nestes tempos que vão correndo não é coisa vulgar.

E assoou-se.

- Mas para isso vale a meu tio o seu exemplo, Sr. frei Januário - acudiu Gabriela. - Resignação aí! Eu sou testemunha da heroicidade com que arrosta as vigílias e os jejuns.

Os presentes, incluindo o próprio D. Luís, não puderam ouvir sem um sorriso a alusão da baronesa.

O padre corou, assoou-se com mais força e resmoneou com azedume:

- Bem sei que não é quanta Deus manda, nem quanta a alma precisa... e por pecador me tenho.

- Deve vir cansada, Gabriela - lembrou D. Luís. - Eu julgo que terão tido o cuidado de...

- Tudo está pronto. Logo que a prima queira descansar... - respondeu Jorge.

- Não sinto grande necessidade de descanso. Descansarei depois do almoço, se me fizerem o favor de dar alguma bebida quente, porque tenho frio.

Em virtude desta reclamação, saíram sucessivamente da sala Jorge, o procurador e Maurício, ficando Gabriela só com o fidalgo.

Este parecia hesitar em aludir ao principal motivo da visita da baronesa.

Foi ela quem rompeu o gelo da entrevista.

- Recebeu a minha carta, tio?

- Recebi, sim, e agradeço.

- Diga que perdoa. Se quer que lhe fale a verdade, julgo que não lhe escrevi em estilo muito apropriado, mas tão desacostumada ando de escrever-lhe, e a gente com quem de costume me correspondo permite-me tal familiaridade, que me descuidei.

- A carta nada tinha de censurável. O que por ela vi foi que devemos renunciar aos projectos que formei a respeito de Maurício.





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