Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 18: XVIII Pág. 245 / 519

.. Que somos nós para si então, padrinho?

O fidalgo tornou-se de novo sombrio ao responder:

- Berta, quando a minha consciência me impõe um acto na vida, é inútil tentar demover-me.

- A consciência! - repetiu Berta, timidamente, como exprimindo uma dúvida.

- Se queres também chamar a isto um preconceito de classe, como já lhe chamou um dos meus filhos, chama-lho embora. Eu todo o caso obedeço-lhe e de obedecer-lhe me orgulho.

E o fidalgo ia para retirar-se, quando Berta lhe disse, hesitando:

- E não me consente que lhe beije outra vez a mão?

O ânimo irritado do senhor da Casa Mourisca abrandou outra vez ao som daquelas palavras meigas. D. Luís estendeu a mão a Berta, que lha beijou chorando.

Ao sentir-lhe as lágrimas, o fidalgo ergueu-lhe amigavelmente a cabeça, perguntando-lhe:

- Porque choras, Berta?

- Porque sinto que já me não tem a amizade que dantes me tinha.

- Criança - disse o fidalgo com uma brandura que havia muito tempo ninguém conhecera nele -, que tens tu com as paixões áridas das nossas almas de homens? Os entes como tu e como aquele que eu perdi nasceram para as dissipar e não para sofrê-las.

E, cedendo à comoção que de novo o dominava, o severo e implacável D. Luís, com admiração crescente de frei Januário, apertou a afilhada nos braços e pousou-lhe na fronte um beijo como os que dava em Beatriz.

E ao separar-se daquele lugar ia outra vez com as lágrimas nos olhos.

Ao fim da avenida, donde se avistava o portão, voltou-se. Berta permanecia no mesmo sítio, a segui-lo com a vista.

- Repare, frei Januário, repare; a quem vê daqui, à distância, não parece mesmo a minha Beatriz, quando nos esperava à porta da Casa Mourisca?

- Sim, as raparigas ao longe todas se parecem; mas olhe que é noite fechada, Sr.





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