Quando Aquiles recebeu as armas das mãos de Tétis, a sua ira, como que por encanto, sumiu-se. Não cessava de as admirar e de soltar exclamações de júbilo. Por fim, disse à sua divina mãe:
— Ninguém duvidaria que tais armas só poderiam ter saído de uma oficina celeste. São realmente magníficas! Vou envergá-las imediatamente e lançar-me ao combate. O que me custa é abandonar o cadáver do meu amigo, não vão as moscas e os vermos desfigurar a sua bela aparência.
— Tranquiliza-te, meu filho — disse Tétis. —Protegê-lo-ei na tua ausência, mesmo que tenha de permanecer aqui durante um ano inteiro. E quando voltares encontrá-lo-ás no mesmo estado. Agora vai e convoca todos os guerreiros, preparando-os para a grande ofensiva. Mas, antes de mais nada, reconcilia-te com Agamémnon.
Com estas palavras, fez avivar em Aquiles o antigo rancor e o espírito belicoso. E o herói saiu pela planície, convocando os guerreiros para uma assembleia. Ao ouvir a voz de Aquiles todos se apresentaram, mesmo os homens que costumavam ficar na retaguarda encarregados de cuidar dos navios. O último a chegar foi Agamémnon, apoiado à lança, pois ainda não se restabelecera completamente dos ferimentos.
Quando todos estavam reunidos, Aquiles tomou a palavra:
— Glorioso átrida Agamémnon, teria sido bem melhor para ambos se nunca tivéssemos rompido os laços de amizade que nos uniam. Devíamos ter sabido dominar os nossos impulsos e evitar que o ódio nos corroesse a alma. Juntos teríamos impedido que tantos gregos perecessem sob os duros golpes do inimigo. Mas, por causa de uma mulher, permitimos que os nossos guerreiros sofressem tantas derrotas. Maldito o dia em que saqueei a cidade de Lirnesso e trouxe Briseida como escrava! Antes Diana a tivesse atravessado com uma seta, em vez de eu a ter trazido para servir de discórdia! Mas não falemos de coisas passadas. Por mim, não guardo ressentimentos e espero que faças o mesmo. Vamos, pois, ao combate! Veremos, então, se os troianos continuarão, noite e dia, a rondar-nos os navios.