Está cansado da vida de rapaz. É natural e é louvável. E em que quer ele empregá-lo? No que amanhã será constrangido a fazer, com pior resultado; no que eu devera ter feito na idade dele; em trabalhar, em gerir os bens da sua casa. Mais vale então que principie já, frei Januário, sob a guia dos seus conselhos, do que tarde, às cegas e sem uma pessoa de confiança a encaminhá-lo.
- Pois é verdade, mas…
- Ele falou-me nisso há pouco.
- Ah! pois sempre fez o que disse?!
- Fez, sim e fez bem. Achei que o rapaz tinha pensado maduramente no caso e dei-lhe a permissão que ele pediu. Era até o que eu tinha para dizer-lhe.
- Então, visto isso, de hoje em diante?…
- De hoje em diante, Jorge se entenderá consigo. O frei Januário precisa de descansar também.
- Eu ainda não estou cansado - resmungou o padre.
- Espero que dará ao meu filho todos os esclarecimentos de que ele precise e todos os conselhos da sua muita experiência.
- Não seja essa a dúvida, mas, na verdade…
O relógio do corredor, batendo nove horas, cortou inesperadamente a frase ao egresso.
Pelos modos a ceia ia tardando.
- Com licença - disse ele, levantando-se -, eu vou ver como correm as coisas na cozinha.
Mas nos corredores murmurava consigo, em tom aforismático:
- Não tem que ver. Filho mação, pai idiota… casa perdida.
Como frei Januário suspeitasse que ia encontrar o cozinheiro menos atento no desempenho dos seus gravíssimos deveres, dirigiu-se, pé ante pé, à cozinha, a fim de surpreendê-lo em flagrante.
Ao avizinhar-se, deu-lhe maior rebate às suspeitas um acalorado travar de vozes que de lá vinha.
Espreitou. A criadagem estava em congresso; orava o hortelão, o inimigo irreconciliável do padre; escutavam-no os outros, boquiabertos,