Arrastava a perna e batia com a bengala. Agarrou Stein pelo braço, levou-o ao pé do divã e começou a clamar com voz estentórea: ‘Olhai, rainha, e vós, rajás, eis aqui o meu filho. Eu negociei com vossos pais e ele negociará convosco e com vossos filhos quando eu morrer.’
«Com esta simples formalidade herdou Stein a posição privilegiada de escocês, as mercadorias e uma casa fornicada na margem do único rio navegável do país. Pouco tempo depois, a velha rainha, tão livre de linguagem morria também, e o país foi perturbado pelas lutas dos vários pretendentes ao trono. Stein tomou o partido de um dos filhos mais novos, aquele mesmo de quem sempre dizia ao falar, trinta anos mais tarde: 'o meu pobre Mohammed Bonso.' Ambos se tornaram heróis de inúmeras façanhas; viveram aventuras maravilhosas, e uma vez resistiram a um cerco, posto por um exército contra a casa do escocês, um mês inteiro, apenas com um número reduzido de partidários. Creio que os indígenas ainda hoje falam nessa guerra. Entretanto, Stein não deixava de apanhar borboletas e os escaravelhos que podia. Após oito anos de guerra, de negociações, de falsas guerras, de ataques repentinos, de reconciliações, de traições, etc., etc., e justamente quando a paz parecia definitivamente estabelecida, o seu 'pobre Mohammed Bonso' foi assassinado à porta da residência real quando descia 0 cavalo, depois de urna alegre caçada ao veado. Este acontecimento tornou a posição de Stein extremamente precária, mas talvez ele permanecesse no país se não lhe tivesse morrido pouco tempo depois a irmã de Mohamzaed ('a minha querida mulher, a princesa', como ele dizia solenemente), de quem tivera uma filha. Mãe e filha morreram, com três dias de intervalo, de uma febre infecciosa. Deixou então o país, que esta perda cruel lhe tornava insuportável.
